Foto: Secretaria Municipal de São Sebastião
Da Agência Brasil - por Por Solimar Luz - repórter da Rádio Nacional - Rio de Janeiro
“Um braço que alcançava o horizonte
Mergulhava no mar e fazia cafuné nos cavalos marinhos
A mão da avó era invisível também
E ambos tinham os mais belos poderes”
Os versos são do livro “Braço Mágico”, de Roseana Murray. E os poderes narrados aqui na voz da escritora se remetem ao amor, sentimento que fez com que ela transformasse em poesia a dor dos momentos mais difíceis de sua vida.
Em abril deste ano, ela foi atacada por três cães, a poucos metros de casa, em Saquarema, Região dos Lagos, e perdeu o braço direito.
Foi durante o período que passou internada na UTI de um hospital da rede pública que Roseana Murray resolveu dar vida à personagem de sua história: uma mulher de 73 anos, avó, de cabelos vermelhos como ela.
“Quando eu soube que eu tinha perdido um braço eu dei uma afundada, claro. E aí eu pensei: eu vou viver com menos um braço, vou transformar meu braço em braço mágico. Comecei a pensar, na minha cabeça, o texto. Não conseguia achar o tom do texto e era duro ainda. Aí meu filho, André, falou pra eu colocar seus netos como ajudantes. Aí o texto realmente se fez na minha cabeça. Quando eu cheguei em casa, escrevi”.
Reaprendendo a escrever sem o braço direito, é nessa viagem literária, repleta de sonhos e desejos, onde arte e corpo se encontram, que a poetisa brasileira, filha de imigrantes poloneses, revela como descobriu a força para seguir em frente.
“A literatura salva mesmo. A literatura tinha que estar nos hospitais. Porque ela é terapêutica. A poesia, então, nem se fala, porque toca muito na emoção. Então, me salvou, ressignificou. Eu não tenho um braço, mas eu tenho o outro. De novo eu sou aluna, aprendiz de muitas coisas”.
Além de “O Braço Mágico”, a autora está lançando também o livro “Poesia Travessia”, e mantem disponíveis seus textos de forma gratuita no roseanamurray.com.
Mas a atuação da escritora não para por aí! É usando a palavra, em um vão entre a realidade e a arte, que ela transpõe limites, fala de sua trajetória e manifesta a crença no futuro.